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No Céu com o Senhor

  • Foto do escritor: Roberto Mendonça Maranho
    Roberto Mendonça Maranho
  • 22 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Poucos dias atrás, resolvi participar de um curso em Belo Horizonte. Local do curso já definido, endereço anotado. Local para hospedagem já acertado. Agora era só comprar a passagem do ônibus até a capital mineira. Um colega me informa que o tempo de viagem é de seis a sete horas. “Ummm aí fica difícil” – pensei. Lembrei-me dos pontos do cartão de crédito que desde 2007 vinha acumulando. Entro no site do banco para ver o saldo: 16.400 pontos. Mais uma rápida navegada pela internet e na Gol descubro que é o suficiente para emitir um bilhete de ida e volta para BH. Está decidido! O negócio é ir de avião!

O voo sai às duas da tarde. Como bom mineiro prevenido, chego ao aeroporto meio dia e meia. Logo vejo vários guichês da Gol e uma longa fila que se organizava por entre faixas laranjas, dando voltas em torno de si mesma para ficar mais compacta. Após uma hora e quarenta minutos ali, já tinha olhado mais de cinquenta vezes para o rosto de cada passageiro, para os atendentes nos guichês, para os painéis de avisos e vez ou outra me chamava a atenção algumas personalidades exóticas que por ali passavam. E eis que chega minha vez de ser atendido. Como sou muito alto e grandalhão, segui a dica da atendente dizendo que as primeiras poltronas eram mais espaçosas e marquei meu lugar logo na primeira fila.

Já faltando poucos minutos para embarcar, resolvi comprar uma garrafa de água sem gás e um Halls de cereja. “Nove e sessenta” – disse a balconista. “Puxa!!! Deve ser água francesa especial” – pensei. Paguei e apanhei rapidamente. Foi quando vi que era aquela boa e velha garrafinha de sempre. Corri para o portão de embarque. Caminhei pelo corredor e imaginava que ao ver a luz ao fim daquele túnel lá estaria uma imensa aeronave. Que nada. Estava ali um ônibus para levar o pessoal até o avião. E ele já estava bem cheio. O jeito foi arrumar um canto e segurar firme ali em pé.

Logo após subir as escadas da aeronave, tratei de ir até as primeiras poltronas. Realmente vi que o espaço para as pernas era um pouco maior que os demais bancos. Ao sentar percebi uma coisa estranha. O apoio de braço não levantava. Então percebi que havia sentado, mas que não estava tocando no acento. Estava é preso entre os apoios para braços. “Viajar uma hora aqui entalado vai ser dureza” – pensei. Aí tive a ideia de verificar se os outros assentos não tinham apoios que poderiam ser levantados. Por sorte encontrei uma fileira em que havia uma pessoa na janela e os outros dois lugares livres. Levantei o apoio para braço e aí foi um alívio. “Ufaaa, agora sim”.

Após a saudação do piloto e apresentação das medidas de segurança pelas aeromoças, o avião começou a manobrar para assumir posição de decolagem. Foi quando um passageiro lá na frente começou a repetir baixinho: “Oh Senhor, Jesus!”. Aí mais dois ou três também repetiam: “Oh Senhor, Jesus!”. Logo já eram umas quinze pessoas, repetindo bem alto: “Oh Senhor, Jesus!”. De repente aquelas palavras vinham de todos os lados, fora de ritmo, mas com toda força: “Oh Senhor, Jesus!”, “Oh Senhor, Jesus!” Percebi que o rapaz ao meu lado começou a ficar com medo, olhava tudo aquilo assustado. E em meio aos gritos de “Oh Senhor, Jesus!” as turbinas foram ligadas e o avião começou a disparar. Eis que o rapaz ao lado dá um grito: VAI SENHOR JESUS! SEGURA QUE É AGORA!!

Pensei: “Bom, pelo menos esse avião não vai cair. Não é possível!”


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