top of page

Décimo Segundo Natal

  • Foto do escritor: Roberto Mendonça Maranho
    Roberto Mendonça Maranho
  • 22 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Acordo ouvindo a forte chuva. Raios iluminam meu quarto como se alguém me fotografasse. O forte barulho do trovão me tira da cama de vez. São seis horas da manhã. É preciso ser rápido para não perder o ônibus. Escovo os dentes e já entro no chuveiro. Meio que ainda dormindo deixo a água correr pelo meu corpo. Logo fico desperto. Aos doze anos, minha roupa é uma bermuda azul e camiseta branca – é assim que se vestem os alunos da escola. Tomo um copo de leite e como uma banana. Saio andando a passos rápidos até a esquina. Logo o ônibus estará chegando.

São quarenta minutos até o colégio. Encosto a cabeça na janela e olho para as casas e comércios. A cidade está começando a despertar, ainda são poucas as pessoas que circulam pela rua. É fim de ano, véspera de Natal. Lembro que no ano passado fiquei tão feliz em ganhar aquela bola. Foi o maior sucesso na escola, brincávamos todos os dias. Se o perna-de-pau do Zezinho não tivesse chutado ela por cima do muro ainda estaríamos jogando com ela. O que será que o papai me daria esse ano? Será que ao despertar no dia seguinte encontraria algum embrulho em baixo da cama?

A professora olha pro relógio. Já é quase hora do recreio. Pessoal sai da sala correndo e logo se forma uma grande fila para pegarmos a merenda. Pego meu prato de alumínio já torto de tantas crianças terem usado. Ganho minha porção de macarrão e como enquanto observo o corre-corre de outros colegas. Acaba o recreio e volto para as aulas. E lá se foi mais um dia. Hora de ir até o ponto de ônibus.

Atravesso a rua e antes de chegar ao outro lado sinto uma forte pancada e tudo se apaga. Abro os olhos. Que lugar estranho. Vozes ao fundo, pessoas andando pra lá e pra cá. Sinto dores por todo o corpo. Logo vejo que minha perna esquerda está engessada. Estou usando uma espécie de saia branca. Vejo alguns curativos nos braços e cotovelos. Uma moça se aproxima de mim. Ela diz que é enfermeira e que fui atingido por um rapaz que dirigia uma moto. Por sorte ele não estava muito rápido. Parece que ele quase não se machucou. Tentava me lembrar do momento do acidente, mas foi tudo tão rápido que não vi de onde ele veio. O que parecia ser mais um dia comum estava agora bem diferente. Logo chegaram meu pai e minha mãe. Ela me deu um abraço apertado com os olhos cheios de lágrimas e disse que tudo ia ficar bem. Apesar de sentir algumas dores eu estava tranquilo. Ouvi que teria que ficar sob observação. Não entendi bem o que isso significava, mas vi que naquela noite teria que dormir por ali mesmo.

Acordo com o quarto bem claro. É meio-dia. Não me lembro de ter dormido tanto assim. Me lembro que é Natal. Mesmo machucado, sentia aquele clima de fim de ano característico desta época. Lá em casa as comemorações sempre foram simples, mas eram momentos de grande alegria. Olho embaixo da maca para ver se encontro algum embrulho. Não há nada ali. Olho para o canto e vejo uma bicicleta prateada. Que coisa linda! Aquela era uma grande surpresa! Fico muito contente, mas não posso levantar da cama para chegar mais perto dela. A enfermeira entra e me diz que o Papai Noel havia passado por aqui naquela noite. Dou um sorriso e ela vai embora.

Podem chamar de Papai Noel, mas as vozes do outro lado do corredor eu conhecia muito bem. Meu pai e minha mãe. Quanto amor e carinho!


Posts recentes

Ver tudo
Dia 8 para sempre

Maria, dentista, havia se mudado de Campinas para São José dos Campos havia dois meses. Alugara uma sala em uma clínica onde já atendia...

 
 
 
Para além do mel

Maria morava com os dois filhos em Campinas, interior de São Paulo. Com seus quarenta e quatro anos, estava divorciada há pouco mais de...

 
 
 
Boa viagem

Boa viagem Viajar. Sair da rotina. Espairecer os pensamentos, a mente incessante. Ter o contato com novos ambientes, pessoas, culturas,...

 
 
 

Comments


©2024 por Gotas de Luz.

bottom of page